E a “briga de titãs” continua…

Samuelson (aqui) em entrevista de janeiro de 2009 sempre indelicado com Friedman. Agora também faleceu (13/12/2009) e não está vivo para ver as reações contrárias a “mais governo”!

And today we see how utterly mistaken was the Milton Friedman notion that a market system can regulate itself. We see how silly the Ronald Reagan slogan was that government is the problem, not the solution. This prevailing ideology of the last few decades has now been reversed.

Everyone understands now, on the contrary, that there can be no solution with(out) (*) government. The Keynesian idea is once again accepted that fiscal policy and deficit spending has a major role to play in guiding a market economy. I wish Friedman were still alive so he could witness how his extremism led to the defeat of his own ideas“. (* minha “edição”)

Será que tudo tem que ser tão complicado?

Deem uma lida nessa argumentação do Ryan Avent do Blog da Economist (aqui). Se os “sinais” de fumaça que os índios do velho oeste enviavam uns aos outros fossem tão “complexos”, eles teriam sido “eliminados” muitas décadas antes! Eu não consigo entender, depois disso, o que o Bernanke entende por “transparência”!

Olha a DA de novo…

Aproveito o release do dado de novos pedidos de seguro desemprego para (mais uma vez) “soltar os cachorros” para cima do Fed. A primeira figura mostra uma sequência de eventos começando pela gradual retração dos preços das casas a partir do início de 2006. Abaixo vemos que o início de construção de novas casas (New House Starts) inicia a queda, acompanhado da redução do emprego na construção residencial. A partir do início de 2007 essas tendências se acentuam.

Note que a figura vai somente até abril de 2008. A figura seguinte mostra o que estava acontecendo com a taxa de desemprego e com os novos pedidos de seguro desemprego até este momento (abril de 2008), assinalado pela linha pontilhada vertical.

Observamos que a taxa de desemprego subiu um pouco, mas ficando abaixo de 5% e que os novos pedidos de seguro desemprego aumentam um pouco, refletindo a queda do emprego no setor.

Depois de abril, no entanto, dois anos após o início do estouro da “bolha” nos preços das casas e redução do emprego no setor de construção, a coisa “desanda”. E “desanda” muito rápido, sem dar tempo para “respirar”.

Vejo essa sequência como mais uma evidência de que o responsável pela intensidade da crise é o Fed, que como mostra figura abaixo deixou a demanda agregada “desabar”. Antes que a DA parasse abruptamente de crescer para despencar logo em seguida, o mercado de trabalho (e os mercados em geral) não dava indicação de que um monumental tsunami era esperado!

Brincando com dados

Em 2007 Ed Leamer, autor do interessante Macroeconomic Patterns and Stories (referência aqui), escreveu artigo provocativo com o título “Housing IS the Business Cycle” (aqui). Aproveito essas “deixas” para desenvolver uma “historinha” mostrando que a taxa de desemprego tem muito a ver com o investimento imobiliário, entendido aqui como “novas construções” (new housing starts), cujo dado referente a agosto foi divulgado esta semana. Na figura (note que o dado da taxa de desemprego está em escala invertida para comparação mais fácil) notamos uma significativa correlação positiva além de um retardo da taxa de desemprego em torno de 10-12 meses, ou seja, picos/vales de novas construções antecedem picos/vales da taxa de desemprego (invertida) nesse intervalo de tempo.

No período mais recente, destacado no círculo, observamos que entre março de 2009 e abril deste ano, as novas construções aumentaram, refletindo o “crédito tributário para novos compradores de casas”. aprovado no pacote do ARRA (American Recovery and Reinvestment Act) de fevereiro de 2009. O benefício expirou em abril deste ano, momento a partir do qual novas construções voltam a recuar. Assim como, com a defasagem normal, a taxa de desemprego recuou com o aumento das novas construções, espera-se que ela volte a aumentar ao longo dos próximos meses.

A hora em que isso se manifestar, a “chiação” vai ser forte!

Humor às custas do Fed…

Ainda sobre a reunião do Fed ontem. Eu levei a sério e escrevi que o Fed passou de ingênuo a malévolo. O cara aqui conseguiu manter o “bom humor”!

A íntegra pode ser lida aqui.

FOMC “Information received since the Federal Open Market Committee met in August indicates that the pace of recovery in output and employment has slowed in recent months…

 Tradução: “As far as we can tell, the economy is still up sh*t creek without a paddle.” 

FOMC “The Committee anticipates a gradual return to higher levels of resource utilization in a context of price stability, although the pace of economic recovery is likely to be modest in the near term.”

 Tradução: “We have no clue what is going to happen next.”

FOMC “Measures of underlying inflation are currently at levels somewhat below those the Committee judges most consistent, over the longer run, with its mandate to promote maximum employment and price stability. With substantial resource slack continuing to restrain cost pressures and longer-term inflation expectations stable, inflation is likely to remain subdued for some time before rising to levels the Committee considers consistent with its mandate.”

 Tradução: “Don’t you worry, we’ll keep inflating til the cows come home.” 

FOMC “The Committee will maintain the target range for the federal funds rate at 0 to 1/4 percent and continues to anticipate that economic conditions, including low rates of resource utilization, subdued inflation trends, and stable inflation expectations, are likely to warrant exceptionally low levels for the federal funds rate for an extended period…”

 Tradução: “We will keep pretending that the cost of capital should be zero. Please forget that you ever heard the term ‘exit strategy’ uttered by any one of us.” 

FOMC “The Committee will continue to monitor the economic outlook and financial developments and is prepared to provide additional accommodation if needed to support the economic recovery and to return inflation, over time, to levels consistent with its mandate.”

 Tradução: “We’ll keep our eyes fastened on the rear-view mirror, and stand ready to inflate even more at the drop of a hat. We already said that, but want everyone to rest definitely assured on that point.”

Bye bye Summers

Os titulares das principais siglas que compoem as assessorias econômicas da Presidência se foram. Depois de Peter Orzag (do Office of Management and Budget – OMB), Christina Romer (do Council of Economic Advisors – CEA), agora foi a vez do “trator” Larry Summers (do National Economic Council – NEC) “jogar a toalha”. Está cansado e vai voltar para a relativa tranquilidade de Harvard (relativa porque até por lá ele já causou polêmica e problemas).

Summers deve se sentir frustrado por seu legado estar associado apenas ao contrafactual “Teria sido pior sem eles” (estímulos fiscais), algo que alguns tentaram mas não conseguiram “provar”. No fim, seu estilo “Capitão de time de debate” – contestando até opiniões com as quais concordava apenas, segundo ele, para identificar “furos” no argumento – causou confusão em diversas ocasiões.

Deveria ter preservado a imagem de um dos três mosqueteiros, juntamente com Greenspan e Rubin, que teriam “salvado o mundo” após as crises da Ásia e Rússia, estampada na capa da revista Time em 15 de fevereiro de 1999!

Depois que “o burro foge”…

A Economist está abrigando um debate sobre como o “ensino da economia deve mudar” (aqui). Um bom número de participantes lembra a importância do conhecimento da história econômica – o que explica o número de referências à Grande Depressão – e da história do pensamento econômico.

Outros se referem à questão do estudo da economia como um processo de “equilíbrio”. Os estudantes avançados passam boa parte do tempo “resolvendo” modelos, que podem ter muito pouca ligação com qualquer “realidade”, e isso impede que pensem “fora da caixa” quando há uma mudança forte na “realidade”, que extrapola os parâmetros “normais”, “jogando” a economia para um “equilíbrio” ruim. O moto “linearize e trivialize” resume bem todo esse “esforço” em resolver “modelos”.

A atenção total aos “fundamentos microeconômicos” da macroeconomia muitas vezes impede que se dê a importância devida ao “fundamento macroeconômico” para que os fundamentos micro possam se “consolidar”. Nesse ponto, a atenção à Demanda Agregada, evitando que ela entre em crash, como aconteceu, é fundamental para que os fundamentos micro não entrem em colapso.

Em outras palavras, não adianta pensar na cor da parede quando a casa está caindo! A questão é a de saber como podemos ter uma “casa sólida” de modo a poder se preocupar com a “decoração interna”. E não devemos esquecer que os 25 anos de “solidez” acabaram incentivando “decorações rocambolescas”! Essas têm que ser evitadas no futuro.

Update: Um artigo interessante sobre “repensando o ensino da economia” (aqui)