Discutindo “Austeridade”

Recentemente, Albert Alesina (aqui) argumentou que “austeridade” fiscal via redução de gastos não é contracionista. O FMI no ainda a ser divulgado WEO de outubro contesta, apontando falhas nos argumentos de Alesina e concluindo que uma consolidação fiscal “doi”, ao menos no curto prazo. Para um resumo ver a Economist de hoje (aqui).

Um exemplo de consolidação fiscal drástica e muito bem sucedida foi a da Irlanda na segunda metade dos anos 1980 (aqui). Além da Inglaterra no início dos anos 1980, um bom exemplo de sucesso no ajuste fiscal é dado pelos EUA nos anos 1990. Como ilustrado na figura, a redução significativa dos gastos públicos (como percentual do PIB), foi acompanhada de crescimento robusto e estável. A partir dos anos 2000, os gastos aumentam e o crescimento “encolhe”.

Crítica às projeções dos BCs

Jordi Gali (aqui) faz uma análise dos métodos:

Central banks’ projections–i.e. forecasts conditional on a given interest rate path–are often criticized on the grounds that their underlying policy assumptions are inconsistent with the existence of a unique equilibrium in many forward-looking models. Here I describe three alternative approaches to constructing projections that are not subject to the above criticism, using two different versions of New Keynesian model as reference frameworks. Most importantly, I show how the three approaches generate different projections for inflation and output, even though they imply an identical path for the interest rate. The latter result calls into question the meaning and usefulness of such projections.

Ryan Avent da Economist (aqui) tem um bom comentário. O Fed não deu bola aos indicadores de mercado – todos indicando a expectativa de queda do dispêndio agregado. A crise foi muito pior por esta razão!

“Foi dada a largada”

O Congresso americano aprovou, por larga margem, legislação para penalizar a China (aqui). Pode não se tornar lei esse ano, mas o primeiro passo para “o festival de besteiras” foi dado… Como lemos abaixo, Obama dá uma de “não é com comigo”!

The Obama administration didn’t endorse the measure, nor did it work with House negotiators out of concern for being tagged as secretly approving of the move. Nevertheless, the bill gives the White House another tool to pressure China to boost the value of its currency, the yuan.

“Complicou”

Hoje o Valor publicou artigo do Martin Wolf  (aqui). . O original já é “enrolado”, na tradução fica pior ainda! A única frase clara e objetiva está no final do texto:

Analysis of the economy is not the same thing as analysing a single household. What is true of the latter is not true of the former. The unwillingness to recognise this truth will lead to serious policy mistakes.

O paradox of thrift (paradoxo da poupança) ao qual ele se refere nada mais reflete do que um desequilíbrio no mercado monetário criado por um excesso de demanda por moeda. Solução: Aumente a oferta de moeda para reequilibrar o mercado e acabar com o “paradoxo”. (não venha dizer que é isso que o Fed faz com o “afrouxamento monetário” que pratica. Tá tudo nos “cofres” do Fed como reservas dos bancos recebendo juros!)

É por isso que devemos considerar a proposta de que o Fed deve ter como “meta” a estabilidade da DA (ou, equivalentemente, o dispêndio nominal agregado). Com isso evita o aparecimento de “paradoxos”.

Update (30/9) Krugman não concorda que o Paradoxo da poupança possa ser reduzido a um desequilíbrio monetário quando a taxa de juros é “zero” (aqui).  (Só que em 1998 ele pensava que sim!)

Reações às pressões de Obama sobre a China

Stephen Roach se manifesta aqui. Mas a melhor manifestação crítica é a carta ao NYT escrita por Don Boudreaux:

In his op-ed on U.S -China trade relations and the allegedly undervalued renminbi, Stephen Roach notes that “President Obama, in a private meeting with Prime Minister Wen Jiabao, was reported to have made it very clear that the United States is, indeed, prepared to take forceful actions if China doesn’t budge on this critical issue” (“Cultivating the Chinese Consumer,” Sept. 29).

Translation of Mr. Obama’s threat to the Chinese Prime Minister: “If you don’t stop abusively taxing your citizens in order to grant unjust privileges to your favorite industries, we will more-abusively tax our citizens in order to grant unjust privileges to our favorite industries.”

Sincerely,
Donald J. Boudreaux

 

“Ninguém se entende”

Essa reportagem do WSJ mostra que o Fed está “perdidão” (aqui). Cada presidente “atira para um lado”. O artigo trás os links para as palestras referidas.

Update (30/9) Esse artigo do WSJ (aqui) elabora a respeito do assunto. Bernanke diz que isso pode levar a melhores decisões. Tudo bem que no seio do FOMC possa haver debate. O problema é quando a “roupa suja” é lavada em público. Divergências certamente houveram na era Greenspan, mas não me lembro de tanto “debate” público. O público fica “perdido” também!

“Anche tu” Meirelles

Depois de Mantega ficar “ensadecido” há duas semanas, volta à carga com “A guerra mundial das moedas” repercutido no Financial Times (aqui):

An “international currency war” has broken out, according to Guido Mantega, Brazil’s finance minister, as governments around the globe compete to lower their exchange rates to boost competitiveness…

Mas não é só o Brasil com Mantega e agora com Meirelles para quem:

“Não se pode permitir que as moedas de alguns países se enfraqueçam”, e que, “o problema cambial é muito sério e precisa ser enfrentado”

A Ásia também entrou no jogo (aqui).

Pode ser que de forma até inconsciente, todos estão procurando dar “estimulos monetários”. Reproduzindo link anterior de Eichengreen escrevendo em março de 2009 (aqui), destaco o “prato principal”:

In the end competitive devaluation benefited no one, it is said, since all countries can’t devalue their exchange rates against each another. The only effects were to fan political tensions, heighten exchange rate uncertainty, and upend the global trading system. Financial protectionism if you will…

In fact, this popular account is a misreading of both the 1930s and the current situation. In the 1930s, it is true, with one country after another depreciating its currency, no one ended up gaining competitiveness relative to anyone else. And no country succeeded in exporting its way out of the depression, since there was no one to sell additional exports to. But this was not what mattered. What mattered was that one country after another moved to loosen monetary policy because it no longer had to worry about defending the exchange rate. And this monetary stimulus, felt worldwide, was probably the single most important factor initiating and sustaining economic recovery.

Em sua opinião na discussão patrocinada pela Economist postada ontem, Scott Sumner argumenta na mesma linha (aqui)

Mas a retórica de Mantega e Meirelles não “casa” com os fatos. Como ilustrado nas figuras, a intensidade das valorizações de todas as moedas (exceto o dólar canadense) nos últimos 4 meses foi maior do que a do real!

E “coitado do Japão”. Não consegue depreciar o iene nem mesmo quando o resto do mundo deprecia, como ocorreu na segunda metade de 2008! Não admira que esteja “atolado” há vinte anos!