Porque a China resiste às pressões para a apreciação do yuan?

Esse artigo na Slate (aqui) é interessante na medida em que chama a atenção para a situação da economia japonesa, que anda meio “esquecida” dados os eventos nos EUA e Europa:

When the financial world tries to anticipate the next meltdown, all eyes turn to Europe. Greece needed a bailout, then Ireland did. Talk is that Spain will follow, though the country denies that it has a problem.

But a few contrarians think everyone is looking in the wrong direction. Forget Europe, they say. Check out Japan instead. “A global fiasco is brewing in Japan,” predicted Societé Genérale analyst Dylan Grice in a recent report. “It’s like the Titanic has already hit the iceberg and you know it’s going to sink, you just don’t know how long it will take to go down,” said Vitaliy Katsenelson, a Denver-based money manager, in a recent interview that was printed in well-known analyst John Mauldin’s newsletter. One hedge fund analyst I spoke to recently noted that Japan has had no fewer than nine finance ministers in the last 4½ years—one of whom apparently committed suicide after resigning.

Quase tudo coberto no artigo poderia ser dito, de forma quase idêntica, 8 ou mesmo 13 anos atrás… O que mudou? Não muito mais do que, de um lado, o passar do tempo – que registra o inexorável envelhecimento da população (que declina) – que leva a uma situação de poupança também declinante, o que torna menos garantida a continuidade do financiamento público, e de outro lado, o fato de que o Japão agora tem outros “concorrentes” de peso em situação que guarda alguma semelhança com a sua.

Vale a pena ler o artigo para se atualizar, mas eu gostaria de aproveitar a oportunidade para fazer um paralelo entre o Japão dos anos 1980 e a China na atualidade, especialmente no que toca o “conflito” cambial dessas moedas com o dólar.

A figura abaixo mostra uma das situações mais interessantes na história das relações cambiais entre as moedas das três maiores economias do mundo à época. Sem entrar nos detalhes, o fato é que entre o início de 1980 e início de 1985 o marco alemão (e as outras moedas conversíveis) se depreciou 90% em relação ao dólar enquanto que o iene permaneceu estável. Entre fevereiro de 1985 e dezembro de 1987, o marco voltou à paridade inicial enquanto o iene se apreciou mais do que 40%!

Para entender esse movimento “peculiar”, é preciso lembrar que os EUA “forçavam” o Japão a apreciar a moeda. Nos anos 1970 e primeira metade dos anos 1980, toda a conversa era em torno de “sanções” às exportações japonesas – tarifas, quotas e mesmo a adoção, por parte do Japão, de restrições “voluntárias” às exportações!

O iene se depreciar? Impensável, apesar de que todas as moedas conversíveis se depreciaram nesse período. Quando a partir do início de 1985 as moedas começaram a se apreciar, tudo bem, o iene estava “liberado” para seguir o mesmo caminho.

Sem, de novo, entrar nos detalhes, a apreciação do iene a partir de meados dos anos 1980 foi responsável pelo Endaya Fukyo (recessão decorrente da apreciação da moeda) que levou à adoção de uma política monetária fortemente expansionista que por sua vez deu “gás” no mercado de ações e imóveis. Os efeitos dos “estouros” das “bolhas” cinco anos depois são bem conhecidos.

Assim não é difícil entender a postura muito mais “desafiadora” da China com relação às “imposições” das autoridades americanas!

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