Só posso classificar a apresentação de Bernanke durante a reunião em
Jackson Hole como “muito barulho por nada”. Os mercados estão tão
desesperados por alguém que indique uma “direção” que reagiram
positivamente (não se iludam, é temporário) a reciclagem de palavras
que vem sendo ditas há muitos meses após as reuniões do FOMC. Assim, o
mercado ficou “animado” com: “No entanto, o Comitê certamente
utilizará as ferramentas à sua disposição, à medida que elas se façam
necessárias, para manter a estabilidade de preços – evitar inflação
excessiva ou desinflação adicional – e para promover a continuação da
recuperação econômica”.
Em que isso difere das palavras presentes em todos os últimos
comunicados do FOMC: “… Nessas circunstâncias, o Federal Reserve
empregará todas as ferramentas à sua disposição para promover a
recuperação e preservar a estabilidade de preços”.
Bernanke também balbuciou que “opções de política estão disponíveis
para prover estímulo adicional para a economia dos EUA, se isso se
fizer necessário”.
O ponto importante é que ele (ainda) não vê necessidade disso!
Sua apresentação, na verdade, pode ser interpretada como uma
“provocação”. Explico: Ele concede 3 pontos levantados por aqueles que
pregam um política monetária mais agressiva, mas na sequência ou
ignora as implicações desses pontos ou argumenta contra eles.
(1) Concede – como já afirmei diversas vezes – que taxas de juros
baixas podem refletir uma economia fraca ao invés de sinalizar uma
política monetária “frouxa”.
(2) Concede que o Fed, ao se manter passivo, pode efetivamente estar
praticando uma política monetária contracionista.
(3) Na discussão sobre o que o Fed pode fazer adicionalmente, se isso
for requerido, Bernanke alude à idéia de “meta para o nível de
preços”. Apesar de ter proposto exatamente isso para o Japão em
trabalho de 1999, no caso dos EUA ele não “vê qualquer suporte do FOMC
para tal política”. Pior, ele pensa que isso não é necessário e que
poderia até ser problemático!
Os mercados não se iludem por muito tempo…